segunda-feira, 5 de setembro de 2011

O Dia da Irmã


Hoje é Dia dos Irmãos. 
Soube disso por meio de meu pai, que me ligou cedo pra me falar. Logo disse a ele que ligaria prá Amanda, minha irmã (que já apareceu por aqui, na postagem sobre o Natal). Mas me esqueci. Não porque não tenha amor por ela, mas porque sou muito distraída. Cada vez mais. No momento em que ele me ligou eu, como boa geminiana que sou, estava fazendo umas três coisas ao mesmo tempo, e não dei conta de guardar a tarefa na mente. Passado o dia, quem me lembrou da data foi a própria Amanda, ainda há pouco. Que sem graça que fiquei! 

Mas não é a vergonha nem a necessidade de retratação que me trazem a essas linhas. É, antes, uma necessidade maior de registrar como sou feliz por ter a irmã que tenho.

Relação de irmãos é curiosa, é uma mistura delicada de competição e cumplicidade, que dependendo do caso, pode descambar mais prá competição do que prá colaboração. Já vi casos em que a presença de um irmão era um verdadeiro tormento pro outro, casos em que um só ficava bem longe do outro, e isso é muito triste de se ver. Isso nunca aconteceu lá em casa, pelo menos não da minha parte, e se aconteceu da parte dela nunca tomei ciência. Não que nossa relação tenha sempre sido um mar de rosas. Quando mais nova eu costumava achar que brigávamos muito, que éramos muito diferentes, que tínhamos gênios completamente incompatíveis... mas hoje percebo que muito das brigas eram por motivo fútil, e nós nunca extrapolamos as barreiras da boa convivência entre irmãos.

Claro que quando eu era adolescente, e quando a diferença de 8 anos entre Amanda e eu pesava demais, quando chegava a hora de ir prá rua ficar com os colegas da minha idade, onde sempre tinha um cara bonito que eu queria muuuitoo namorar, eu odiava quando minha mãe dizia: ‘leva tua irmã contigo’. E eu, a filha-mais-velha-que-não-podia-dizer-não, levava a irmã pelo braço, completamente contrariada. Claro que não a tratava bem... claro que na confusão dos sentimentos adolescentes eu achava que a culpada era ela. Mas não era. Não tinha culpa nenhuma... e mesmo não gostando, tive que levar Amandinha pra tudo quanto é canto.
E outra coisa também que acontecia lá em casa, como acontece em todas as casas, ou em quase todas, é a clássica comparação que os pais fazem dos filhos, e os papéis que os pais atribuem aos rebentos. A mais velha tem que ser o exemplo sem nem saber nada da vida, a mais nova já nasce com um exemplo a seguir. Fulana é quem sabe fazer tal coisa. Ciclana!! Você tem que fazer como tua irmã!! Muito complexo pra duas crianças. Mas isso aconteceu, repito, dentro dos parâmetros normais de uma relação familiar saudável...mas até que eu, até que ela nos déssemos conta disso, certamente muita frustração ficou acumulada. E pode até ter alguma guardada, que a gente é humano e não aprende cedo a reciclar emoções. Eu cresci um pouco sufocada no dever de ser exemplo, e confesso que queria muito ser uma boa irmã mais velha, ter sempre a resposta certa pra ajudar minha irmãzinha. Queria poder ensiná-la o caminho das pedras pra ela nunca sofrer.  Amanda, por sua vez,  cresceu tendo muita atitude, certamente buscando seu lugar ao sol, ou melhor, buscando o seu próprio sol que não fosse o meu, e assim tentava fugir do estigma da irmã mais nova.
Hoje tenho 33 anos, ela tem 25, e nossa relação evoluiu bastante. Estamos mais próximas da cumplicidade do que da competitividade, e isso é muito bom. É mais: é excelente encontrar na tua irmã uma amiga. Nem sempre a gente entende uma à outra, temos sim temperamentos bem diferentes e de vez em quando as diferenças pesam... mas é isso, hoje nos vejo muito mais cúmplices e companheiras. Como todos os irmãos devem ser, aliás.
Ficam aqui, minha irmãzinha, essas breves linhas pra você. Te amo tão fundo que dói. Deus me prive de te perder, ou de perder a confiança que você deposita em mim.  Desejo que ainda possamos comemorar muitos e muitos Dias dos Irmãos... A partir do ano que vem, prometo, ficarei mais atenta à data!

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Pro sobrinho que nasceu


Um fragmento de uma leitura que eu fazia coincidentemente enquanto meu mais novo sobrinho (postiço) estava nascendo - e veio bem a calhar.

"Se refletirmos bem, estas são mudanças [ocorridas na história humana] extraordinárias, todas elas decorrentes da compreensão dos nossos defeitos. Rita Levi Montalcini explicou isso muito bem no seu livro L'elogio dell'imperfezione (O elogio da imperfeição). (...)
[naquele tempo] (o) dinossauro era perfeito já na sua origem, já sabia se mover, já sabia obter alimento sozinho e, portanto, os genitores o abandonavam à própria sorte. O ser humano, ao contrário - e eis aqui novamente o elogio da imperfeição -, nasce indefeso. Se não fosse socorrido, morreria em poucas horas.
Contudo, a sua fraqueza se transforma na sua força, pois a assistência biológica que se dá ao seu desenvolvimento durante tanto tempo implica também a aculturação do indivíduo. Nós somos os únicos animais que precisam de ao menos dez anos de assistência para que nos tornemos indivíduos em condições de sobreviver. E somos os únicos animais que não recomeçam sempre do início, mas que, além das características hereditárias e do saber instintivo, recebem dos adultos o sabe cultural".

(extraído de 'O Ócio Criativo', de Domenico de Masi)

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O Papa e a Economia

Finalmente concordo com alguma coisa que o Papa Bento XVI fala. O ser humano deveria mesmo ser o centro da economia. Aqui mesmo, no Brasil, a presidenta fala que fim da miséria só se consegue com crescimento do crédito...e a educação de qualidade? E a saúde? Enfim, e o verdadeiro investimento no ser humano e na qualidade de vida? O ser humano brasileiro segue sendo tratado cada vez mais como ser consumidor. E o a busca pelo 'fim da miséria' nada mais é do que uma forma de manter a economia aquecida.

domingo, 29 de maio de 2011

Torna-te quem tu és

Resolvi, depois de muito pensar, que vou ter um bichano. 
A vontade veio de repente, há alguns meses atrás. E daí prá frente, fatos diversos só a fortaleceram. 
A gatinha do primeiro andar do prédio em que moro passou a fazer hora na janela, e eu me adaptei a brincar com ela quando chegava do trabalho. Conheci dois gatos lindos, o Frodo e a Frida, e fiquei fascinada por eles,  por suas posturas aristocráticas, postura aliás que todo gato tem. 
Com o tempo, passei a sonhar com gatos. Frequentemente. Sistematicamente. Primeiro um, depois mais de um, e por fim, vários! A vontade tinha chegado ao sub-consciente, e eu precisava tomar uma atitude urgente! Tirar logo essa indecisão da minha cabeça.
E então, eis que recebo um e-mail falando de um gatinho, muito bonitinho e alegre, que foi abandonado na rua, e foi abrigado por alguém de muito bom coração, mas que mora numa casa cuja dona não gostou do bichano.  E onde, ainda por cima, o felino apanhava da gata que já morava lá. 
Nesse e-mail, a remetente assinava com uma frase do Nietzsche que diz "Torna-te quem tu és". Não entendi, na hora, a mensagem. Mas agora, dias depois, enxergo que essa frase era a resposta prá dúvida que me martelada a mente - adoto ou não um gatinho?
Eu acredito que estamos no mundo pra aprender, e que a experiência de cuidar de bichos é, primeiramente, um grande aprendizado. Além disso, é um ato de compaixão muito grande, ainda mais na nossa sociedade que não cuida bem nem dos humanos, quem dirá dos animais. E no fim das contas, optar por ter um animal de estimação é uma escolha pessoal.
Pois bem...aprender, exercitar a compaixão e bancar as próprias escolhas são posturas que estou buscando ter cada vez mais na minha vida. Por isso entendo que, ao adotar um gatinho, estarei me tornando quem eu sou (e ao contrário do que parece, isso não é nada fácil!). Serei mais amorosa, mais zelosa, mais alegre, mais 'multiatarefada'...Será também um grande exercício de desapego aos bens materiais. Não que eu não valorize o que tenho, mas terei que entender se eventualmente um móvel for arranhado, ou algum objeto derrubado com a calda do amiguinho...rs
Bem, é isso, estou trazendo mais essa aventura prá minha vida. Vamos ver no vai dar!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

"O homem não quer ficar triste"

Sexta-Feira Santa, feriado. Dia em que gosto de seguir num ritmo mais leve. Por isso resolvi passar um pouco do tempo vasculhando minha caixa de e-mails enviados, à procura de determinadas mensagens, por um motivo que não vem ao caso comentar...aí, encontrei essa reportagem excelente com o Dr. Mighel Chalub, sobre o recurso cada vez maior a ansiolíticos, fenômeno que aqui no Brasil está assumindo proporções cada vez maiores. 
Compartilho a entrevista com vocês. Espero que gostem.
E antes que fiquem preocupados comigo...não, eu não estou deprimida, e não uso ansiolíticos...rs

"O homem não aceita mais ficar triste" (Dr. Miguel Chalub - Revista IstoÉ)
 
Uma das maiores autoridades brasileiras em depressão, o médico diz que, hoje, qualquer tristeza é tratada como doença psiquiátrica. E que prefere-se recorrer aos remédios a encarar o sofrimento
  
Chalub afirma que muitos médicos se rendem aos laboratórios farmacêuticos e Indicam antidepressivos sem necessidade
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) prevê que a depressão será a doença mais comum do mundo em 2030 – atualmente, 121 milhões de pessoas sofrem do problema. Para o psiquiatra mineiro Miguel Chalub, 70 anos, há um certo exagero nessas contas. Ele defende que tanto os pacientes quanto os médicos estão confundindo tristeza com depressão. “Não se pode mais ficar triste, entediado, porque isso é imediatamente transformado em depressão”, disse em entrevista à ISTOÉ.
 
"Hoje, brigar com o marido, sair do emprego, qualquer motivo é válido para se dizer deprimido. Mas o sofrimento não significa depressão"
 
Professor das universidades Federal (UFRJ) e Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), ele afirma que os psiquiatras são os que menos receitam antidepressivos, porque estão mais preparados para reconhecer as diferenças entre a “tristeza normal e a patológica”. Mas o despreparo dos demais especialistas não seria o único motivo do que o médico chama de “medicalização da tristeza”. Muitos profissionais se deixam levar pelo lobby da indústria farmacêutica. “Os laboratórios pagam passagens, almoços, dão brindes. Você, sem perceber, começa a fazer esse jogo.”
 
"Há a tendência de achar que o medicamento vai corrigir qualquer distorção humana. É a busca pela pílula da felicidade"

Istoé - Por que tantas previsões alarmantes sobre o aumento da depressão no mundo?
 
Miguel Chalub - Porque estão sendo computadas situações humanas de luto, de tristeza, de aborrecimento, de tédio. Não se pode mais ficar entediado, aborrecido, chateado, porque isso é imediatamente transformado em depressão. É a medicalização de uma condição humana, a tristeza. É transformar um sentimento normal, que todos nós devemos ter, dependendo das situações, numa entidade patológica. 
 
Istoé - Por que isso aconteceu?
 
Miguel Chalub - A palavra depressão passou a ter dois sentidos. Tradicionalmente, designava um estado mental específico, quando a pessoa estava triste, mas com uma tristeza profunda, vivida no corpo. A própria postura mostrava isso. Ela não ficava ereta, como se tivesse um peso sobre as costas. E havia também os sintomas físicos. O aparelho digestivo não funcionava bem, a pele ficava mais espessa. Mas, nos últimos anos, a palavra depressão começou a ser usada para designar um estado humano normal, o da tristeza. Há situações em que, se não ficarmos tristes,  é um problema – como quando se perde um ente querido. Mas o homem não aceita mais sentir coisas que são humanas, como a tristeza.
 
Istoé - A que se deve essa mudança?
 
Miguel Chalub - Primeiro, a uma busca pela felicidade. Qualquer coisa que possa atrapalhá-la tem que ser chamada de doença, porque, aí, justifica: “Eu não sou feliz porque estou doente, não porque fiz opções erradas.” Dou uma desculpa a mim mesmo. Segundo, à tendência de achar que o remédio vai corrigir qualquer distorção humana. É a busca pela pílula da felicidade. Eu não preciso mais ser infeliz.
 
Istoé - O que diferencia a tristeza normal da patológica?
 
Miguel Chalub - A intensidade. A tristeza patológica é muito mais intensa. A normal é um estado de espírito. Além disso, a patológica é longa.
 
Istoé - Quanto tempo é normal ficar triste após a morte de um ente querido, por exemplo?
 
Miguel Chalub - Não dá para estabelecer um tempo. O importante é que a tristeza vai diminuindo.  Se for assim, é normal. A pessoa tem que ir retomando sua vida. Os próprios mecanismos sociais ajudam nisso. Por que tem missa de sétimo dia? Para ajudar a pessoa a ir se desonerando daquilo.
 
Istoé - Quais são os sintomas físicos ligados à depressão?
 
Miguel Chalub - Aperto no peito, dificuldade de se movimentar, a pessoa só quer ficar deitada, dificuldade de cuidar de si próprio, da higiene corporal. Na tristeza normal, pode acontecer isso por um ou dois dias, mas, depois, passa. Na patológica, fica nas entranhas.
 
Istoé - Ainda há preconceito com quem tem depressão?
 
Miguel Chalub - Não. É o contrário. A vulgarização da depressão diminuiu o preconceito, mas criou outro problema, que é essa doença inexistente. Antes, a pessoa com depressão era vista como fraca. Hoje, as pessoas dizem que estão deprimidas com a maior naturalidade. Não se fica mais triste. Se brigar com o marido, se sair do emprego, qualquer motivo é válido para se dizer deprimido. Pode até ser que alguém fique realmente com depressão, mas, em geral, fica-se triste. O sofrimento não significa depressão. E não justifica o uso de medicamentos.
 
Istoé - Os médicos não deveriam entender este processo?
 
Miguel Chalub - Os médicos não estão isentos da ideologia vigente. O que acontece é: você vem ao meu consultório. Eu acho que você não está deprimido, que está só passando por uma situação difícil. Então, proponho que você faça um acompanhamento psicoterápico. Você não fica satisfeito e procura outro médico, que receita um antidepressivo. Ele é o moderno, eu sou o bobão. Para não ser o bobão, eu receito um antidepressivo logo. É uma coisa inconsciente.
 
Istoé - Inconsciente?
 
Miguel Chalub - Os médicos querem corresponder à demanda. Senão, o paciente sairá achando que não foi bem atendido. Receitando um antidepressivo, eles correspondem à demanda, porque a pessoa quer ser enquadrada como deprimida. Mas há a questão dos laboratórios. Eles bombardeiam os médicos.
 
Istoé - A ponto de influenciar o comportamento deles?
 
Miguel Chalub - Se for um médico com boa formação em psiquiatria, mesmo que não seja psiquiatra, ele saberá rejeitar isso, mas outros não conseguem. Eles se baseiam nos folhetos do laboratório. Não é por má-fé. Os laboratórios proporcionam muitas coisas. Pagam passagens, almoços, dão brindes. O médico, sem perceber, começa a fazer o jogo. Porque me pagaram uma passagem aérea ou me deram um laptop, acabo receitando o que eles estão querendo.
 
Istoé - O médico se vende?
 
Miguel Chalub - Sim. Por isso é que há uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária proibindo os laboratórios de dar brindes aos médicos. Nenhum laboratório suborna médico, não que eu saiba, nem vai chegar aqui e dizer: “Se você receitar meu remédio, vou lhe dar uma mensalidade.” Mas eles fazem esse tipo de coisa, que é subliminar. O médico acaba tão envolvido quanto se estivesse recebendo um suborno realmente.
 
Istoé - Esse lobby é capaz de fazer um médico receitar certo remédio?
 
Miguel Chalub - Aí é a demanda e a lei do menor esforço. Se o paciente chegar se queixando de insônia, por exemplo, o que o médico deveria fazer era ensiná-lo como dormir. Ou seja, aconselhar a tomar um banho morno, um copo de leite morno, por exemplo. Mas é mais fácil, tanto para o paciente quanto para o médico, receitar um remédio para dormir.
 
Istoé - Os demais especialistas também receitam remédios psiquiátricos, não?
 
Miguel Chalub - Quem mais receita antidepressivos não são os psiquiatras, são os demais especialistas. Os psiquiatras têm uma formação para perceber que primeiro é preciso ajudar a pessoa a entender o que está se passando com ela e depois, se for uma depressão mesmo, medicar. Agora, os outros, não querem ouvir. O paciente diz: “Estou triste.” O médico responde: “Pois não”, e receita o remédio. Brinco dizendo o seguinte: se você for a um clínico, relate só o problema clínico. Dor aqui, dor ali. Não fale que está chateado, senão vai sair com um antidepressivo. É algo que precisamos denunciar.
 
Istoé - Os psiquiatras deveriam ser os únicos autorizados a receitar esse tipo de medicamento?
 
Miguel Chalub - Não acho que seja motivo para isso. Os outros especialistas têm capacidade de receitar, desde que não entrem nessa falácia, nesse engodo.
 
Istoé - Mas os demais especialistas estão capacitados para receitar essas drogas?
 
Miguel Chalub - Em geral, não.
 
Istoé - É comum o paciente chegar ao consultório com um “diagnóstico” pronto?
 
Miguel Chalub - É muito comum. Uma vez chegou um paciente aqui que se apresentou assim: “João da Silva, bipolar.” Isso é uma apresentação que se faça? Quase respondi: “Miguel Chalub, unipolar.” É uma distorção muito séria.
 
Istoé - O acesso à informação, nesse sentido, tem um lado ruim?
 
Miguel Chalub - A internet é uma faca de dois gumes. É bom que a pessoa se informe. A época em que o médico era o senhor absoluto acabou. Mas a informação via Google ainda é precária. Muitas vezes, a depressão, por exemplo, é ansiedade. Mas as pessoas não querem conviver com a ansiedade, que é uma coisa desagradável, mas que também faz parte da nossa humanidade. Tenho uma paciente que disse: “Ando com um ansiolítico na bolsa. Saí de casa, me aborreci, coloco ele para dentro.” Então é isso? Se alguém me fala algo desagradável, eu tomo um ansiolítico? Isso é uma verdadeira amortização das coisas.
 
Istoé - O que causa a depressão?
 
Miguel Chalub - Esse é um dos grandes mistérios da medicina. A gente não sabe por que as pessoas ficam deprimidas. O mecanismo é conhecido, está ligado a uma substância chamada serotonina, mas o que o desencadeia, não sabemos. Há teorias, ligadas à infância, a perdas muito precoces, verdadeiras ou até imaginárias – como a criança que fica aterrorizada achando que vai perder os pais. As raízes da depressão estão na infância. Os acontecimentos atuais não levam à depressão verdadeira, só muito raramente. Justamente o contrário do que se imagina. Mas mexer na infância é muito doloroso. Não tem remédio para isso. Precisa de terapia, de análise, mas as pessoas não querem fazer, não querem mexer nas feridas. Então é melhor colocar um esparadrapo, para não ficar doendo, e pronto. É a solução mais fácil.
 
Istoé - O antidepressivo é sempre necessário contra a depressão?
 
Miguel Chalub - Quando é depressão mesmo, tem que ter remédio.
 
Istoé - Há quem diga que hoje a moda é ter um psiquiatra, não um analista. O que sr. acha disso?
 
Miguel Chalub - As pessoas estão desamparadas. Desamparo é uma condição humana, mas temos que enfrentá-lo, assim como o fracasso, a solidão, o isolamento. Não buscar psiquiatras e remédios. Em algum momento, isso pode ficar tão sério, tão agudo, que a pessoa pode  precisar de uma ajuda, mas para que a ensinem a enfrentar a situação. Ensina-me a viver, como no filme. Não é me dar pílulas, para eu ficar amortecido.
 
Istoé - O que é felicidade para o sr.?
 
Miguel Chalub - A OMS tem uma definição de saúde muito curiosa: a saúde é um completo estado de bem-estar físico, mental e social. Essa é a definição de felicidade, não de saúde. Felicidade, para mim, é estar bem consigo mesmo e com o outro. Estar bem consigo mesmo é também aceitar limitações, sofrimento, incompetências, fracassos. Ou seja, felicidade também é ficar triste de vez em quando.

sábado, 26 de março de 2011

Auto-análise

Já que não tem jeito, assumo esse meu lado teimoso, idealista e um tanto orgulhoso, que por tanto tempo tentei sufocar. Talvez assim, reconhecendo-o, ele se canse de tentar me pregar peças e me deixe seguir meu caminho em paz - assim como as 'pilhas' que os colegas nos pregam sempre perdem força quando não lhes damos atenção. Talvez, ainda, se eu conseguir olhá-lo cara a cara, possa aprender a entendê-lo melhor, e até possamos, daí, estabelecer uma boa convivência. Sei lá, talvez....
Talvez um dia passe esse espanto de me reconhecer menos transigente do que me supunha ser, de me perceber mais fechada e defensiva do que gostaria...Mas esse 'novo eu' que a partir de hoje enxergo, é o mesmo eu que sempre me acompanhou. E com ele devo aprender a caminhar, para meu próprio bem. Por mais que me doa reconhecê-lo em mim...Temos que aprender a caminhar juntos, de uma vez por todas.

quinta-feira, 3 de março de 2011

Dança do Ventre II

 

Estou há quase dois meses aprendendo dança do ventre. Nesse período, cada vez me maravilho mais com essa arte tão linda! Apesar do pouco tempo de prática, já sinto uma certa consciência corporal, e alguns benefícios da atividade aeróbica. Mas a parte lúdica da dança é que está 'arrebentando'. As músicas são deliciosas, e deixar o corpo fluir nesse ritmo tão envolvente é passar alguns momentos literalmente em outra dimensão. Dançar é libertar a alma - que bom que eu tô entendendo e sentindo isso! E minha relação de amor com a música aumenta cada vez mais, pois é preciso entrar nela, deixar-se levar por ela, pra que assim o corpo saiba que caminho seguir. É preciso viver a música em cada compasso seu, em cada tempo e contratempo. E por falar em tempo...cada vez percebo como a música, e agora a dança, me ajudam a me relacionar com ele. Quem sabe um dia escrevo sobre isso por aqui :-) .

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Bricolagem

Sempre que surge uma oportunidade eu pinto. Não os 7. Nem quadros. Eu pinto móveis. Descobri esse meu 'talento' prá bricolagem já há algum tempo, e no últimos dois anos venho exercitando-o mais. Pequenas reformas dão uma 'ressuscitada' tão legal nos caidinhos e queridos móveis, que não perco a oportunidade de fazê-las.
Essa semana eu pintei uma cama de ferro. Pra pintar ferro eu gosto de usar tinta spray. Não é muito ecológico por conta do aerosol, eu sei...mas evita escorrimento exagerado de tinta e é mais prático. As fotos abaixo mostram minha 'arte'. A cama era rosa há 25 anos atrás. Depois de uns 15 anos virou vinho, após ser pintada por outra pessoa num processo mais profissa. Agora ela é verde, graças a moi. Eu adorei o resultado final. Deu muito trabalho, me cansou pra caramba, mas ficou muito bonita!

O PROCESSO: Antes ela era assim....

 

DEPOIS: Agora ela está assim!

 





segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Expecto Patronum

Creio que o que mais me impressiona na série de filmes do Harry Potter são os momentos em que aparecem os “dementadores”. Esses seres das trevas, guardiães da prisão de Azkaban, têm o poder de sugar a paz, a alegria e a esperança de todos à sua volta. Dessa maneira, retiram de suas vítimas todo o bom pensamento e a boa lembrança que estas possuem. Se elas sobrevivem, seguem suas vidas em total demência. Pra quem não viu o filme, devo dizer que a arma contra os dementadores é o feitiço chamado Expecto Patronum, que significa evocar a proteção contra esses seres do mal. Tal evocação consiste em mentalizar, com muita força, a melhor lembrança que se tenha. Ainda que o encanto do patrono não mate os dementadores - e aí leia-se que o mal vai estar sempre presente - esse feitiço protege quem a ele recorre.
Assim como Harry Potter e seus amigos, também estamos suscetíveis às investidas de dementadores das mais diversas naturezas. E essa relação tão direta entre o mundo ficcional criado por J.K. Rowling e o mundo em que vivemos me impressionou tanto que me trouxe a estas linhas. Sabemos que os dementadores se manifestam diariamente por meio da miséria, da violência, dos desastres ambientais; das politicagens, daquelas pessoas desagradáveis com as quais temos que conviver... tudo isso tira um pouco de nossa vontade de viver, de nossa esperança por dias melhores. E por mais que nos doa, sabemos também que muitas vezes os dementadores estão dentro de nós mesmos, e ganham força a cada momento em que deixamos de acreditar em nossa capacidade pessoal.
Mas o que é mais bonito nessa estória é o ensinamento de que o antídoto para os dementadores está ao nosso alcance, dentro de nós mesmos. Mas não é fácil ativar bons pensamentos em força suficiente pra se proteger de certos dementadores, eu sei... Quantas vezes nos deixamos sucumbir pelos dementadores cotidianos, e, nos esquecendo de quem somos, seguimos rumo ao caminho da anulação pessoal, da demência? Mas se ativamos essa força extraordinária que guardamos dentro de nós, poderemos combatê-los e seguir com nossos próprios pés pelo caminho que desejamos seguir. Mais protegidos contra o mal, conseguiremos caminhar maiores distâncias..
Nosso amigo Harry sabe que essa não é tarefa fácil. Mas ele mesmo é prova de que ela é mais que possível. Numa das cenas mais bacanas de confronto que Harry travou com os dementadores, ele descobre que é um bruxo de muito poder, pois só um bruxo de muito poder derrotaria a horda de seres negativos que o perseguiam. E a saga de Harry nos conta também que, muito mais que poderes de bruxo, um coração cheio de amor, alegria e esperança é um escudo fortíssimo contra o mal. Então, sigamos cultivando esses sentimentos dentro de nós, deixando-os bem vivos pra que sejam nosso escudo contra todos os males. Vamos nos fortalecendo e evocando o Expecto Patronum, pois os dementadores estarão sempre à espreita...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Barcelona

"Porque es tan fuerte, que sólo podré vivirte en la distancia y escribirte una canción" (Barcelona - Giulia & los Tellarini)
  
O conceito geográfico de lugar foi um dos que mais me cativou durante o curso de Geografia. De acordo com essa corrente científica, ‘lugar’ é um conceito que parte da constatação dos vínculos afetivos que desenvolvemos com certos espaços ao longo de nossa existência. O lugar é então um espaço ao qual nos ligamos afetivamente, e em relação ao qual nutrimos um profundo sentimento de pertencimento, de ‘estar em casa’. Disso decorre que todo e qualquer indivíduo desenvolve um senso de lugar com seus espaços de vivência, num processo que é pessoal. Disso decorre também que ao longo de nossa vida podemos habitar certos espaços aos quais não nos sentimos vinculados afetivamente, e por essa razão tais espaços nunca serão lugares – na acepção geográfica. O conceito de lugar está, portanto, muito presente em nossas vidas, e talvez por essa razão eu o considere tão interessante.
Em setembro do ano passado fiz uma viagem à Espanha que me fez entender na prática uma outra característica do conceito de lugar: a de que ele é construído com o tempo, em processo, e não de uma hora pra outra. A localidade que desencadeou essa experiência foi a cidade de Barcelona.
Bem, Barcelona dispensa apresentações. E como é uma cidade dotada de muitos predicados, eu estava cheia de expectativas quando cheguei lá. Seria impossível não a-mar de cara aquele lugar. Porém, por conta de alguns inconvenientes, não senti por essa cidade a mesma empatia instantânea que senti por outras visitadas, nem tampouco a paixão fulminante que Granada despertou em meu coração (ah...Granada...um dia escrevo aqui sobre essa preciosidade).
Não me senti ‘em casa’ em Barcelona quando me perdi no trem entre o aeroporto e a pensão, ou quando o Catalão tão presente me fez sentir profundamente solitária; ou ainda quando a chuva inclemente que anunciava o início do outono me impediu de fazer meu primeiro passeio de ‘reconhecimento de área’ e me confinou a meu quartinho impessoal de hospedagem. Minha primeira impressão de Barcelona foi a de uma cidade fechada e cinza. Senti saudade do sol e do aconchego de Granada...caí até no erro de comparar cidades, e pensei que Barcelona era uma espécie de São Paulo litorânea, enquanto os ‘Rios de Janeiro’ ficariam no interior, em Madrid e em Granada. Muito, mas muito simplista esse meu raciocínio. 
Mas se alguma comparação pode ser feita entre Barcelona e São Paulo (além do fato de essas duas cidades comandarem as regiões economicamente mais ricas de seus países), é que culturalmente as duas são colchas de retalhos muito, mas muuuuiito interessantes. Diria melhor: são caleidoscópios que por sua natureza podem confundir os mais desavisados.

Aos poucos fui conhecendo os atributos da cidade, e enquanto o tempo melhorava, eu ía me ambientando. Aprendi a andar pela Ciutat Vella, e viajei no tempo ao vislumbrar suas construções medievais. Pude até viajar mais ainda e caminhar entre ruínas romanas. Me emocionei com as obras de Gaudí, em especial com a Sagrada Família, que encheu minha alma de uma ternura profunda. Sofri uma grande indecisão sobre que bairro escolheria pra morar, se um dia viesse a  residir em Barcelona: o boêmio Born, que me pareceu uma Santa Teresa plana, ou o Eixample, símbolo da arquitetura modernista catalã – e confesso que ainda não me decidi.... Num delicioso passeio pelo Montjüic pude respirar ar puro em plena cidade. Aproveitei um pouco das festividades da Festa de La Mercè, "a festa dos catalãos", onde o show do Quimi Portet foi o ponto alto. Mesmo não entendendo uma palavra do que ele cantava (pois cantava em catalão), a linguagem universal das guitarras me fez gritar de alegria junto com os locais. Me deixei inebriar pelo colorido dos produtos do mercado de Saint Joseph, o conhecido Mercat de la Boqueria. No último dia, o derradeiro passeio pela Rambla já teve um tom nostálgico. E como fazia sol, foi com muita tristeza que conheci melhor a Barceloneta, e lamentei que não ficaria para o fim de semana.

Ainda saí de Barcelona pensando que tinha gostado do passeio, mas tinha faltado algo. (alma perturbada essa a minha, não?) E desde então, curiosamente, das sete cidades que visitei, é em Barcelona que mais penso quando me lembro da viagem que fiz. Desde então, posso dizer que sigo construindo meu ‘senso de lugar catalão’.
Barcelona, foi mal...acho que exigi demais de você em nosso primeiro contato, mas tua fama é tanta que me assustei e me confundi. Me desculpe se em algum momento levantei contra você algum falso testemunho. Logo você que é uma cidade única na diversidade. Hoje o que sinto por ti é uma vontade imensa de te ver de novo. Espero poder fazê-lo, e que não demore tanto...

Vídeos de música relacionados:

Barcelona - Giulia Y Los Tellarini


Por qué tanto perderse,
tanto buscarse,
sin encontrarse?
Me encierran los muros de todas partes.
Barcelona

Te estás equivocando...
No puedo seguir inventando
que el mundo sea otra cosa
y volar como mariposa.
Barcelona

Hace un calor que me deja
fría por dentro
con este vicio de vivir mintiendo
Que bonito sería tu mar si supiera yo nadar.
Barcelona

Mi mente está llena de cara de gente extranjera,
conocida, desconocida.
He vuelto a ser transparente.
No existo más...
Barcelona

Siendo esposa de tus ruidos,
tu laberinto extrovertido.
No hay encontrado la razón.
Por qué me duele el corazón?

Porque es tan fuerte
que sólo podré vivirte
en la distancia y escribirte una canción.
Te quiero, Barcelona!

Barcelona és poderosa!

Homes i dones del cap dret - Quimi Portet 


D'esquena al mar i a la muntanya; completament al marge
de l'activitat industrial; sota una col, canta el poeta:

Des d'una àrea de servei,
la meva terra
es com un parrac grapejat;
un país vençut pel davant
i pel darrere;
d'atrotinada dignitat.

Adéu turons amics,
adéu rieres,
boscos d'alzines i de roures i fagedes.
Muntanyes del meu cor,
adéu estrelles,
adéu al mar pur de cristalls i de turqueses.

Lleugerament trastocat, el poeta continua cantant:

Sona una guitarra
i el solet no vol sortir;
a veure la terra promesa
com fa el seu darrer sospir.

Hola pudors d'inferns
brutes i abjectes;
d'animals escorxats, sentor de sang i merda.
Adéu olors d'abans:
fenc, trepadella;
d'espígol dolç, i farigola a l'escudella.

Adéu amor, bonica,
la millor amiga,
adéu rateta que escombrava l'escaleta.
I allà a sota una col,
canta el poeta:
homes i dones del cap dret, adéu per sempre.
 
Pela tradução aproximada do Google, percebe-se que a letra critica a devastação ambiental causada pelas remodelações urbanas. Achei legal porque nesse post falo de vínculos afetivos com o lugar, e a letra descreve todas as perdas afetivas decorrentes da alteração desenfreada ocorrida em certas cidades.

"colinas amigos Adeus
adeus córregos
florestas de carvalhos e (..) carvalhos.
Montanhas do meu coração
estrela adeus
adeus ao mar cristalino puro e azul-turquesa."

"Soa uma guitarra
e não quero deixar sozinho;
para ver a terra prometida
Como o seu último suspiro.

Olá fedor do inferno
bruta e miserável; 
(...)
Adeus cheiros de antes:
feno, Onobrychis;
doce de lavanda, tomilho e a sopa.

Adeus amor, belas
melhor amigo
ratinho adeus (...)
E ali, (...),
o poeta canta:
homens e mulheres de qualquer direito, adeus para sempre".

Barcelona é uma cidade mutante, e por isso esse tema deve ser tão tocante ao artista.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Rapidinhas de férias - parte 3: Harry Potter


Das várias tarefinhas que pretendia realizar  nas minhas três semanas de descanso, uma das poucas que consegui foi a de ver todos os filmes da saga Harry Potter. Era uma questão de honra fazer isso, já que desde o primeiro filme, lá dos idos de 2001 se bem me lembro, estou me devendo entrar nesse mundo mágico dos bruxos. 
Ontem fui ao cinema assistir ao Harry Potter e as Relíquias da Morte 7.1. Foi o primeiro que assisti na telona, e é uma pena que seja o penúltimo, já que o próximo volume (Harry Potter e as Relíquias da Morte 7.2) será o último dessa saga fantástica. 
Mas, se já atualizei meus conhecimentos sobre a estória, falta muito ainda pra entender todos os significados do universo mágico criado por J.K. Rowling. E falta também ler os livros, que é outra tarefa que não sei quando cumprirei... :? 
Pra entender as mensagens subliminares do universo 'potterístico', vou buscar a ajuda da expert Dinha, uma das minhas ilustres leitoras, que já se ofereceu pra ministrar um mini-curso sobre Harry Potter. O combinado era vermos os filmes juntas, Dinha, eu sei, mas como tinha tempo, fui começando o serviço. Mas ainda quero as aulas!! :)
Talvez eu volte a escrever mais por aqui sobre essa minha mais recente gamação. Por ora só queria registrar que já sei o que se vende  na Travessa Diagonal, o que é Quadribol e  pra que serve conjurar um patrono.. :)



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Rapidinhas de férias - parte 2: Ilha Grande e Araruama

Fiz duas viagens curtas nessas férias, bem acompanhada de alguns dos amigos que tenho. 
A primeira foi prá virada do Reveillon. Fui com mais três amigas pra Ilha Grande, local que já conheço, mas que sempre gosto de visitar. Foi a primeira vez que passei o Reveillon fora do Rio. Adorei a experiência de me retirar pra descansar e já ir recarregando a bateria pra começar mais um ano. 
Um lugar que amei revisitar foi a Cachoeira da Feiticeira, à qual se chega por uma trilha que parte da praia da Feiticeira. Diz a lenda que havia um casal de franceses vivendo nesse local, e na época em que a Ilha Grande ainda era porto de vários navios negreiros, a mulher do casal, uma curandeira, cuidava dos escravos feridos. Ela foi tida pela Igreja Católica como feiticeira e morta numa fogueira. Mas a praia e a cachoeira guardam a lembrança de sua existência, assim como algumas ruínas da casa em que moraram no meio da mata. Segue fotinha da cachoeira.



E depois, no primeiro fim de semana do ano, 'zarpei' pra passar dois dias com amigos em Araruama. Nunca tinha ido prá cidade, só passado por ela. É gostoso ter, tão perto do Rio, um lugar pra ficar num ritmo mais tranquilo. Além de irmos a uma praia de Arraial do Cabo, que estava cheíssima e que por isso quase não fotografei, curtimos um dia na Praia dos Amores, na lagoa de Araruama mesmo. Uma delícia, água morninha, praia rasa e sem ondas. Tirei umas fotos 'bucólicas' de lá. Posto aqui uma delas, que foi quando tentei fotografar uma garça branca linda que tava parada ao lado do barco, mas ela voou logo na hora em que cheguei perto...

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Rapidinhas de férias - parte 1: Cândido Portinari

Estou curtindo um breve período de férias, no qual tenho feito algumas coisas bem legais. Uma delas foi ter ido à exposição da obra Guerra e Paz do Cândido Portinari, que esteve aqui no Rio nada mais nada menos que no nosso belíssimo Theatro Municipal, o que tornou o passeio uma honra dupla pra mim.
A obra, composta por dois murais de  cerca de 14x10 metros cada um, retrata a visão do artista sobre o que seria um cenário de guerra e o que seria um cenário de paz. Foi encomendada pelo governo brasileiro na década de 50 para presentear a ONU. Esses murais estão desde então expostos no hall de entrada da Assembléia Geral da ONU em Nova Iorque, e voltaram ao Brasil para passar por uma minuciosa limpeza. Foram expostos uma única vez aqui no Rio em 1956, voltaram agora, e serão expostos novamente no Brasil após limpos (e oxalá eu possa vê-los de novo) antes de voltarem aos EUA.
Guerra e Paz é marcante na carreira de Portinari pois esses foram os últimos murais elaborados pelo artista.  Para quem não sabe, Portinari estava terminantemente proibido de pintar pois apresentava sintomas de intoxicação por tinta. Mas vislumbrando a oportunidade profissional que tal empreitada representaria, o artista aceitou a tarefa, sabendo que estaria assinando com isso sua pena de morte. As reportagens escritas e televisionadas que vi recentemente mostram que esse interesse profissional revelava sua vontade de pintar, e de pintar um tema tão forte e caro à humanidade como o é a dupla guerra e paz.  Foram 4 anos de dedicação ao projeto, de 1952 e 1956, entre elaboração de estudos e pintura. Em 1956 os painéis foram expostos pela primeira vez no palco do Theatro Municipal, onde tivemos a honra de vê-los agora.

 "os painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz...
dedico-os à humanidade..."
(Portinari, 1957)

Como disse, são duas telas enormes, uma representando a guerra e a a outra a paz. Em relação ao tema Guerra, o folder explicativo que deram na exposição nos conta que ao contrário de outras representações de guerra eternizadas na história da arte, entre elas o Guernica de Picasso, a abordagem de Portinari busca representar a guerra não pelas armas ou pela lembrança da violência física, mas pelo que ela tem de mais marcante em qualquer época, "o desencadeamento de horror e animalidade". Em tons que vão dos azulados aos violáceos, passando por reflexos esverdeados, um cenário soturno de fome, dor e morte é apresentado.  Já no painel Paz, elaborado em tons pastéis que refletem alegria e tranquilidade, o artista registrou "um universo de paz, de comunhão fraterna no trabalho produtivo, num reino mágico de cores reluzentes, do som da ciranda de jovens num canto universal de fraternidade e confiança, ou da candura dos folguedos infantis". 






Eu fiquei emocionadíssima com essa exposição. Gosto muito dos trabalhos do Portinari, acho a história de vida dele muito bonita, e sua faixão de morte pela pintura é comovente. Tenho muito orgulho de ser do mesmo país que esse Grande Artista.
Termino com um vídeo de uma canção que foi uma homenagem linda que fizeram a ele. Não sei de quem é sua autoria, vou ficar devendo. Mas ela foi cantada graciosamente pela Grande Mercedes Sosa, o que torna esse vídeo imperdível. Se chama "Un Son para Portinari".

Así con su mano dura,
hecho de sangre y pintura,
sobre la tela,
sueña y fulgura,
un hombre de mano dura.
Portinari lo desvela
y el roto pecho le cura.