segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Praia Vermelha


Concha de água e sal.
Nela o tempo não existe.
As ondas se quebram em espuma branca. 
Meus pés escondidos na areia dourada,
um livro de García Márquez.


O mar esverdeado,
as montanhas esverdeadas,
a mata esverdeada,
o céu azul.
A brisa me toca o corpo.
O corpo salgado de mar.


Gaivotas sobrevoam os banhistas, 
o som macio da alegria infantil...
Fominha.
Biscoito O Globo..."Olha o picolé!"
Cheiro de queijo na brasa.
Um navio passa ao largo,
e mais ao longe, as praias de Niterói.


Areia molhada,
pés molhados,
corpo submerso...
Renovação.
Desfruto, na paz, meu dia na Praia Vermelha.


(escrito em agosto de 2009)

domingo, 28 de novembro de 2010

Quem sou eu?

Passeando no Corcovado

Esse blog tá saindo do forno. Muitas partes serão ajeitadas ao longo do tempo.
Uma delas é o "Quem sou eu", que ainda não escrevi.
Tarefinha difícil essa de se descrever, né?
Por ora basta dizer que sou filha da Bia e do Ari, e irmã da Amanda. "Só isso"  me permite dizer a vocês que sou a pessoa mais abençoada do mundo. Porque uma honra dessas não é pra qualquer um.

Sobre a "Guerra no Rio"


Essa é minha primeira postagem por aqui. Sinceramente eu gostaria de inaugurar meu blog com um tema mais agradável, ainda mais por estar escrevendo numa manhã de domingo, momento daquela moleza gostosa, quando temos certeza que o tempo deu uma paradinha pra nos esperar despertar... Mas nessa manhã de 28 de novembro acordei com vontade de escrever sobre esse tema pesado que tem tomado os noticiários por toda a semana: a "guerra do Rio de Janeiro". Também me incomoda um pouco abrir meu blog já apontando uma chaga dessa cidade que eu amo tanto, o Rio. Mas como a proposta desse blog é ser, pra mim, um espaço em que poderei extravasar o turbilhão de pensamentos que lotam minha cabeça...rsrs...lá vai...o tema de abertura será esse mesmo, porque é nisso que estou pensando agora, nessa manhã ensolarada da primavera carioca.
É que tenho o hábito de tomar café da manhã assistindo a TV. Se já tinha esse hábito antes de ir morar sozinha, não me lembro, mas sei que nos últimos 7 anos a TV é minha companhia na refeição matinal. Acredito que é bom começar o dia sendo informada sobre o que está acontecendo no mundo. Mas na última semana, os noticiários têm se fixado nos atentados desencadeados por membros do tráfico em diversos locais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, e mais recentemente sobre o combate ao tráfico em duas localidades da cidade, a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. Inevitável, pois, que meu café da manhã tenha sido embalado com alguns trechos de mais uma matéria impressionante sobre a ocupação do Alemão.
Não pretendo fazer um compêndio do que tem sido discutido a respeito. Quero só escrever mais algumas linhas sobre o que penso, sem pretender que minha opinião seja tida como verdade absoluta, até porque é difícil ser conclusivo sobre um tema tão complexo sobre a 'geopolítica' do Rio de Janeiro.
Acordei com a notícia de que o Complexo do Alemão havia sido tomado pelas forças militares - PM, exército, marinha, bombeiros, o diabo a quatro. Ao noticiar o feito, o comandante das operações lançou mão de mais um monte de expressões que compõem uma retórica que já tá me cansando. Apresento algumas dessas expressões e o porquê do cansaço.
As expressões taxativas que falam da 'ocupação de territórios pela Lei',  'entrada da Lei' no lugar tal, 'resposta do Estado' ao poder paralelo e tantas outras, até bem bonitinhas.... são taxativos porque apresentam a situação como o grande final feliz que os moradores do Rio estão esperando há décadas, como o grande embate final entre o Bem e o Mal, em que o Bem, representado pelo Estado e suas forças de segurança, venceu o Mal, representado apenas pelas centenas de traficantes que foram espantados 'como baratas' das áreas ocupadas. Mas a 'geopolítica' do Rio de Janeiro (pra usar outra expressão que li essa semana) é muito complexa pra ser entendida apenas pela visão maniqueísta de mocinhos versus bandidos.
Inúmeras são as áreas ocupadas pelo tráfico no Rio de Janeiro. E outras inúmeras são aquelas ocupadas por milícias, forças paramilitares compostas por integrantes das forças armadas (e, portanto, por membros da segurança do Estado), que também levam opressão a essas áreas. E tanto o tráfico como a milícia são estruturadas em um 'esquema' que ultrapassa os limites das 'comunidades'. Quem viu Tropa de Elite 2 pôde ter uma explicação didática do assunto. Então, dizer que o combate ao tráfico está sendo efetivo só porque tomam essas duas localidades - enormes, diga-se de passagem, é ser simplista demais. Em uma atividade capitalista a venda é só uma etapa do negócio. A venda de drogas nas localidades ocupadas pelo tráfico, ou a venda de serviço de Gato Net, ou de gás de cozinha e de proteção nas comunidades onde reina a milícia, são portanto uma etapa do negócio. Há os fornecedores, e também os consumidores. Ocupar a Vila Cruzeiro e o Alemão, infelizmente, não basta pra que o Rio 'mude para melhor' (vi no Facebook uma postagem dizendo que o Rio 'mudou pra melhor', e achei esse comentário de uma inocência comovente..). E além disso, retirar o tráfico dessas áreas e não implantar ações verdadeiramente benéficas para a população, como a melhoria da saúde, da educação, das oportunidades de emprego e de acesso...não adiantará de nada. Só abrirá caminho pra outros poderes paralelos entrarem.
Não quero dizer aqui que acho que não adianta de nada o que estão fazendo lá - e aí reside uma das contradições instaladas na minha cabeça, porque ao mesmo tempo não deixo de enxergar o oportunismo e os vieses fascista e classista que se escondem por detrás das ações do Estado. Sei que prá população dessas áreas a retirada do tráfico significa uma mudança de vida enorme. E eu entendo e respeito isso porque sei bem como é horrível viver em ambiente dominado pelo tráfico de drogas. Fui criada na Cidade de Deus, e conheço muito bem os efeitos psicológicos da violência à qual as populações do Alemão e da Vila Cruzeiro estão expostos. Mas infelizmente o problema do Rio não é só o tráfico, como eu comentei acima. A Zona Oeste tá dominada pelas milícias e ninguém fala nada a respeito. Por isso fico cansada de ouvir aquelas expressões citadas acima, e tantas outras, ditas com um tom de autoridade como se as nossas autoridades estivessem acima do bem e do mal, e como se todos os problemas da cidade tivessem sido resolvidos.