terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Rapidinhas de férias - parte 1: Cândido Portinari

Estou curtindo um breve período de férias, no qual tenho feito algumas coisas bem legais. Uma delas foi ter ido à exposição da obra Guerra e Paz do Cândido Portinari, que esteve aqui no Rio nada mais nada menos que no nosso belíssimo Theatro Municipal, o que tornou o passeio uma honra dupla pra mim.
A obra, composta por dois murais de  cerca de 14x10 metros cada um, retrata a visão do artista sobre o que seria um cenário de guerra e o que seria um cenário de paz. Foi encomendada pelo governo brasileiro na década de 50 para presentear a ONU. Esses murais estão desde então expostos no hall de entrada da Assembléia Geral da ONU em Nova Iorque, e voltaram ao Brasil para passar por uma minuciosa limpeza. Foram expostos uma única vez aqui no Rio em 1956, voltaram agora, e serão expostos novamente no Brasil após limpos (e oxalá eu possa vê-los de novo) antes de voltarem aos EUA.
Guerra e Paz é marcante na carreira de Portinari pois esses foram os últimos murais elaborados pelo artista.  Para quem não sabe, Portinari estava terminantemente proibido de pintar pois apresentava sintomas de intoxicação por tinta. Mas vislumbrando a oportunidade profissional que tal empreitada representaria, o artista aceitou a tarefa, sabendo que estaria assinando com isso sua pena de morte. As reportagens escritas e televisionadas que vi recentemente mostram que esse interesse profissional revelava sua vontade de pintar, e de pintar um tema tão forte e caro à humanidade como o é a dupla guerra e paz.  Foram 4 anos de dedicação ao projeto, de 1952 e 1956, entre elaboração de estudos e pintura. Em 1956 os painéis foram expostos pela primeira vez no palco do Theatro Municipal, onde tivemos a honra de vê-los agora.

 "os painéis Guerra e Paz representam sem dúvida o melhor trabalho que já fiz...
dedico-os à humanidade..."
(Portinari, 1957)

Como disse, são duas telas enormes, uma representando a guerra e a a outra a paz. Em relação ao tema Guerra, o folder explicativo que deram na exposição nos conta que ao contrário de outras representações de guerra eternizadas na história da arte, entre elas o Guernica de Picasso, a abordagem de Portinari busca representar a guerra não pelas armas ou pela lembrança da violência física, mas pelo que ela tem de mais marcante em qualquer época, "o desencadeamento de horror e animalidade". Em tons que vão dos azulados aos violáceos, passando por reflexos esverdeados, um cenário soturno de fome, dor e morte é apresentado.  Já no painel Paz, elaborado em tons pastéis que refletem alegria e tranquilidade, o artista registrou "um universo de paz, de comunhão fraterna no trabalho produtivo, num reino mágico de cores reluzentes, do som da ciranda de jovens num canto universal de fraternidade e confiança, ou da candura dos folguedos infantis". 






Eu fiquei emocionadíssima com essa exposição. Gosto muito dos trabalhos do Portinari, acho a história de vida dele muito bonita, e sua faixão de morte pela pintura é comovente. Tenho muito orgulho de ser do mesmo país que esse Grande Artista.
Termino com um vídeo de uma canção que foi uma homenagem linda que fizeram a ele. Não sei de quem é sua autoria, vou ficar devendo. Mas ela foi cantada graciosamente pela Grande Mercedes Sosa, o que torna esse vídeo imperdível. Se chama "Un Son para Portinari".

Así con su mano dura,
hecho de sangre y pintura,
sobre la tela,
sueña y fulgura,
un hombre de mano dura.
Portinari lo desvela
y el roto pecho le cura.




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