terça-feira, 20 de março de 2012

Das 8 às 5

Das oito às cinco não cabe o eu
nem cabe o brotar de ideias -
só o automatismo cabe das oito às cinco.
Das oito às cinco não cabe abrir a janela
não cabe o voo do pássaro
o ar fresco
o sorriso espontâneo
a digestão do almoço.
Das oito às cinco não cabe o tempo do agora -
tudo é pra ontem das oito às cinco.
Não cabe mastigar a comida
ligar prá família
pagar as contas
cantarolar
ou regar as plantas.
Não cabe admirar as plantas das oito às cinco.
Não cabe a poesia das oito às cinco.
Das oito às cinco só cabe a frustração. E a vontade de ser mais livre.
(MAVN, 20 de março de 2012)

2 comentários:

luis.bahiana@gmail.com disse...

Não seria o caso de inventar um outro "oito às cinco"?

Mel Vilanova disse...

É, pode ser. Mas no momento estou tentando reiventar esse.